Porto derrotado em estreia europeia

+ ANÁLISE GLOBAL +


O FC Porto apresentou-se, contra o Chelsea, num esquema táctico pouco rotinado, o 4-5-1, que acabou por resultar num claro ascendente da equipa da casa na fase inicial da partida. Na verdade, os cinco primeiros minutos foram muito disputados, com os ‘dragões’ a entraram a todo o gás, nomeadamente por intermédio de Hulk, que chegou a assustar Petr Cech. Contudo, os vinte e cinco minutos seguintes foram do Chelsea. O FC Porto baixou muito as linhas, e quando os ingleses tinham a posse de bola, apenas o Incrível não recuava até ao meio-campo portista. Rodríguez fechava na esquerda, Mariano na direita, com Raúl Meireles e Guarín a procurarem conter as investidas pelo corredor central e Fernando atento à movimentação adversária em redor da área.

Não se pode dizer que o Porto tenha jogado mal durante a primeira parte. Sofreu bastante até à meia hora de jogo, mas depois conseguiu soltar-se. O plano de jogo do Professor era claro: recuar as linhas, procurar não dar espaço ao adversário para atacar, impedir a subida dos perigosos laterais do Chelsea e arrancar o mais depressa possível na direcção da baliza de Cech, com Rodríguez, Mariano e Hulk encarregados de lançar os contra-ataques.

Porém, e como seria de esperar, esta estratégia não funcionou em pleno. O FC Porto apresentou um esquema táctico com o qual não está familiarizado, e a ausência de mecanismos resultou nalguma descoordenação colectiva por parte dos elementos da frente.

Na segunda parte, o FC Porto sofreu o golo muito cedo (Anelka aos 48’) e a seguir reagiu e foi para cima do Chelsea. Se o Chelsea, no primeiro tempo, teve um caudal ofensivo muito grande, o FC Porto acabou o encontro a massacrar os ingleses. Nem sempre com arte e engenho para causar o perigo necessário, não com uma quantidade muito considerável de oportunidades de golo, mas com domínio territorial, posse de bola no meio-campo adversário e muita vontade de chegar ao empate. Esta situação de jogo foi motivada pelas entradas de Radamel Falcao e, acima de tudo, Silvestre Varela, os agitadores do ataque portista. Que grande exibição rubricou o português, mesmo com pouco tempo disponível para se exibir.

É certo que as análises a posteriori são sempre mais fáceis – depois da derrota, não custa nada criticar a opção do treinador azul e branco de jogar de forma mais conservadora frente a um oponente poderoso. No entanto, e disse-o mesmo antes do irritante Konrad Plautz apitar para o começo do jogo, o FC Porto deveria ter assumido uma postura mais audaz e mais condizente com a sua personalidade em campo. Jesualdo Ferreira já deveria ter aprendido a lição: sempre que mexe demasiado, perde. O ano passado, atingimos uma fase adiantada da prova jogando da mesma forma que no campeonato, iguais a nós próprios, eliminando o Atlético e assustando sobremaneira os então campeões europeus. A prova de que deveríamos ter entrado com outro esquema foi o dinamismo que Varela concedeu ao jogo quando entrou. Percebo a intenção do treinador ao colocar Guarín no miolo para dar mais músculo, agressividade e poder de recuperação. Mas, mesmo tomando essa opção, deveria ter colocado Bellushi ou Varela no lugar de Mariano, uma vez que estes têm outra capacidade de passe e de condução de bola, bem mais úteis no plano ofensivo. Mesmo compreendendo o objectivo das mudanças de Jesualdo, não concordo com elas.




+ ANÁLISE INDIVIDUAL +


Helton - Helton protagonizou enormes defensas e patenteou enorme segurança. Seria muito complicado fazer algo mais no golo (apesar de ter sido algo lento a levantar-se a pós a sua primeira enorme intervenção). Afastou os fantasmas de Stamford Bridge e evitou males maiores na primeira metade.

Jorge Fucile - Um verdadeiro dragão, um lutador incansável. Todavia, foi algo trapalhão e teve um número significativo de más opções e passes falhados. Precisa de aplicar a sua raça de outra maneira e recuperar os níveis exibicionais de outros tempos. Ainda assim, exibição positiva.

Rolando - Muito sereno, recuperou algumas bolas e fez cortes providenciais. Um bom jogo do central português.

Bruno Alves - À semelhança do seu companheiro no eixo defensivo, o capitão esteve muito bem, dando pouco espaço a Anelka para se movimentar na área. Defendeu bem e ainda tentou levar a equipa para a frente nos momentos de desespero.

Álvaro Pereira - Uma boa exibição, principalmente a nível ofensivo, onde tentou desequilibrar. Fechou bem ao meio e teve alguns cortes interessantes. Pecou por conceder demasiado espaço a Ivanovic para cruzar, pese embora essa fosse a função do médio - acompanhar o lateral adversário

Fernando - O «Polvo» acabou expulso no último minuto graças a um segundo amarelo, na sequência de uma entrada mais durinha junto da área adversária. Mas isso não apaga a enorme exibição deste jovem brasileiro. Uma grande partida, posicionamento impecável, força, crença, desarmes e cortes sem conta. E ainda deu uma perninha ao ataque, algo que por vezes tem dificuldade em fazer. Mais um bom jogo em Inglaterra (a fazer recordar o jogo diante do Man United, no ano transacto). Veremos quem irá substitui-lo no Dragão, frente ao Atlético. Vai fazer falta!

Raúl Meireles - Que exibição monstruosa! Para quem dizia que ele estava em má forma e não aguentava os noventa minutos, no jogo em que a equipa mais precisava dele, o n.º3 deu uma resposta à altura. Sentido táctico apuradíssimo, posiconamento irrepreensível, capacidade defensiva impressionante, qualidade de passe acima da média, disponibilidade, pulmão e espírito de dragão durante todo o jogo. Atacou, defendeu, conduziu, liderou. O patrão deste meio-campo, a mostrar-se à Europa.

Fredy Guarín - Uma performance muito interessante do colombiano do FC Porto. A sua inclusão na equipa inicial foi inesperada mas acabou por superar as expectativas. Jogou para dar força ao meio-campo e estancar as investidas do meio-campo do Chelsea e cumpriu a sua função. Finalmente, um jogo à imagem do seu real potencial. Defendeu com agressividade, não foi a todas as bolas como fazia e atacou com muito mais simplicidade e clarividência do que vinha sendo hábito, soltando a bola nos momentos oportunos e envolvendo-se com os colegas nas manobras ofensivas. Uma agradável surpresa.

Mariano González - Não esteve numa noite particularmente inspirada. Guerreiro é. Sempre. Mas hoje foi o Mariano trapalhão que nada acrescentou à equipa. Um cabeceamento desastrado e uma arrancada que terminou em perda de bola foram os melhores registos do médio argentino. Foi bem substituído no início da primeira parte.

Cristián Rodríguez - Ainda não é o melhor CR10 mas foi animador vê-lo actuar desta maneira na estreia como titular esta época, no FC Porto. Rápido, bom tecnicamente, tentou em vão levar os contra-ataques portistas a bom porto durante a primeira parte. Saiu, já desgastado, após uma arrancada à Maradona, para dar lugar a um Varela que rendeu mais do que ele.

Hulk - Prometeu muito com um remate potente no começo do jogo mas depois foi-se apagando. Sofre do «Síndrome Ronaldo» na selecção. Poder-se-ia pensar que a falta de rendimento se devia ao facto de estar a jogar no meio dos centrais, sem espaço para progredir em velocidade como tanto gosta, mas quando passou para a ala, o problema persistiu. À esquerda ou à direita, foi pouco forte no 1x1 e perdeu demasiadas bolas. Não foi o jogador de equipa que já revelou ser noutros momentos. Terminou todo "roto", sem se fazer aos lances.

Radamel Falcao - Entrou muitíssimo esforçado e até teve um ou dois lances em que esteve relativamente perto de se estrear a marcar na própria estreia europeia. Fez um bom jogo, ganhou algumas bolas, conseguiu espevitar o ataque. Não esteve nada mal!

Silvestre Varela - O elemento azul e branco que menos tempo esteve em campo e uma das figuras centrais da equipa, hoje. Grande jogo. Um enorme talento, com uma vontade inegável de se afirmar e de mostrar o seu valor. Perdeu muito poucas bolas, ganhou muitas. Correu, veio buscar jogo, trouxe imprevisibilidade à dianteira portista. Deixou a claríssima ideia de que deveria ter sido titular, tal a sua produtividade dentro de campo. Física e tecnicamente impressioante, a confirmar as indicações dadas até ao momento.

6 comentários:

Antonio disse...

Antes de mais, bem vindo ao Trio Galático!

Quanto ao jogo:

Soube através do The Crow que Jesualdo "voltou a inventar" e sinceramente não fiquei admirado.
Tal como tu dizes e muito bem, compreende-se a idéia de Jesualdo, mas acabou por correr mal.

Depois de se ver em desvantagem o Porto foi atrás do prejuizo, mas acabou por pecar por falta de objectividade.

Não concordo quando dizes que o Porto massacrou, já que oportunidades de golo poucas houve. Houve sim uma subida territorial do FCP e a consequente descida do Chelsea, que quanto a mim teve sempre o jogo controlado.

Quanto a jogadores, subscrevo o que dizes sobre Varela e Raul Meireles.
Gostaria também de realçar Alvaro Pereira que por muito bem que ataque (e ataca) tem que defender bem melhor do que fez hoje (e nos outros jogos que vi dele). Vamos ver como se porta defensivamente frente ao Braga...

Continua a participar Francisco.

Cumps

Fernando Alvega disse...

E eu não concordo nem um bocadinho nas notas dadas ao Meireles e ao Alvaro.Para mim foram dos mais fracos em campo.

Pedro Fonseca disse...

Excelente análise e excelente texto. Parabéns ao autor.

Subscrevo cada palavra do que foi dito pelo sr.Francisco Reis, excepto o uso da expressão "Massacre".

O Porto esteve muito longe de massacrar o Chelsea, ou pelo menos esteve longe de conseguir o empate. Porquê? Porque o Porto não conseguiu criar oportunidades dignas de registo. Na minha opinião o recuo do Chelsea depois do golo, foi mera estratégia da equipa da casa, tal como o Porto fez na primeira parte.

O Chelsea mereceu os 3 pontos mas o Porto sai de cabeça levantada.

Cumprimentos desportivos

JPF

Antonio disse...

Polo, o Meireles teve um trabalho muito importante no controle a Ballack e Lampard.
Para mim o melhor acabou por ser o Helton...

Quanto ao Alvaro, concordo contigo.

Cumprimentos

SDMF disse...

Alvaro Pereira dos mais fracos em campo?

Acho que vi um jogo completamente diferente...

Antonio disse...

Forte a atacar, fraco a defender...

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